'Sono afiado': pererecas dormem sobre espinhos para se proteger

  • 25/05/2025
(Foto: Reprodução)
Apesar de parecer arriscado, comportamento é uma tática evolutiva para evitar predadores. Dendropsophus branneri, perereca endêmica do Brasil, empoleirada em uma urtiga, planta que apresenta tricomas e causa urticária, coceira e sensação de queimaduras Willianilson Pessoa Na natureza, tudo é adaptação. Para sobreviver e escapar de predadores, diversas espécies desenvolveram estratégias curiosas – algumas tão inusitadas que até passam despercebidas aos olhos humanos. É o caso de várias espécies de pererecas que, mesmo tendo a pele sensível, são frequentemente encontradas dormindo ou repousando em plantas cobertas de espinhos ou tricomas (estruturas urticantes, como as da urtiga). Espécies do gênero Boana e Dendropsophus, por exemplo, são algumas das que já foram flagradas em lugares como esses. “Pode acontecer com quase todas as espécies de pererecas do Brasil, mas nem sempre há registros. Muitas vezes, é um comportamento tão comum que passa despercebido pelos pesquisadores”, observa o herpetólogo e naturalista Willianilson Pessoa. O comportamento, que pode parecer arriscado à primeira vista, é na verdade uma sofisticada tática evolutiva, segundo o especialista. “Os animais não escolhem conscientemente onde vão dormir ou se esconder. Esse comportamento surge ao longo do tempo, pela chamada pressão seletiva”, detalha. Ou seja, os indivíduos que, por acaso, se abrigam em locais menos acessíveis aos predadores têm maiores chances de sobreviver, se reproduzir e, assim, passar adiante seus genes. Um abrigo seguro…e espinhoso Pererecas são anuros (anfíbios sem cauda) que possuem uma habilidade singular: são exímias escaladoras e costumam viver em árvores e arbustos – tanto que, em inglês, são chamadas de “tree frogs”. Por isso, são justamente elas que mais se beneficiam dessas adaptações, buscando refúgio em meio a plantas com espinhos ou tricomas. Dendropsophus branneri é uma espécie de perereca que ocorre ao longo da costa Atlântica desde o Maranhão até o Rio de Janeiro Gabriel Lima/iNaturalist “Esse comportamento é mais observado nas pererecas, porque elas pulam, se agarram e conseguem se fixar em locais altos. Sapos e rãs, por serem mais terrestres e aquáticos, respectivamente, não costumam apresentar essa mesma estratégia”, explica Willianilson. Como esses animais tão frágeis suportam plantas tão hostis? A pele das pererecas é notoriamente fina e sensível, mas a evolução lhes proporcionou mecanismos para evitar ferimentos nesses ambientes inóspitos. Um deles é o peso: a maioria das pererecas é muito leve, o que reduz a pressão de contato com o espinho ou tricoma, impedindo que a estrutura perfure a pele. A pele das pererecas é notoriamente fina e sensível, mas a evolução lhes proporcionou mecanismos para evitar ferimentos nesses ambientes inóspitos Willianilson Pessoa Além disso, como explica o herpetólogo, esses animais produzem grande quantidade de muco, que serve não só para impermeabilizar o corpo, mas também como uma possível camada protetora contra arranhões e picadas. “Esse muco pode evitar que o espinho perfure a pele ou que, se perfurar, cause alguma reação grave”, comenta. Outro fator curioso é que, assim como os humanos têm regiões da pele mais grossas e resistentes, os anuros também apresentam diferenças estruturais. “O ventre das pererecas, por onde elas se apoiam, é mais espesso e rugoso do que o dorso. Isso garante maior resistência justamente nas áreas de contato”, detalha Willianilson. O ventre das pererecas, por onde elas se apoiam, é mais espesso e rugoso do que o dorso. Isso garante maior resistência justamente nas áreas de contato Willianilson Pessoa A lógica evolutiva por trás do comportamento Esse hábito é considerado um exemplo clássico de adaptação evolutiva mediada pela predação. Ou seja, é uma resposta direta à necessidade de sobreviver em um ambiente onde o risco é constante. “Na natureza, não existe romantização. Tudo se resume à sobrevivência: os animais estão o tempo todo tentando não morrer ou tentando matar para sobreviver”, afirma o pesquisador, lembrando que cada comportamento animal está relacionado a um delicado equilíbrio entre o risco e o benefício. O herpetólogo cita o conceito do trade-off, amplamente utilizado na ecologia comportamental: ao vocalizar, por exemplo, o macho de uma espécie pode aumentar suas chances de atrair fêmeas, mas, ao mesmo tempo, se expõe mais aos predadores. Dendropsophus soaresi vocalizando em um cacto com o saco vocal muito perto da roseta de espinhos Willianilson Pessoa Por isso, muitos anfíbios optam por cantar ou repousar em locais mais protegidos, mesmo que menos confortáveis, como no meio de plantas espinhosas. “Qual é o predador que vai querer colocar a boca em um sapo no meio de espinhos ou tricomas? Esses locais oferecem proteção extra”, ressalta. Outros exemplos curiosos na natureza O uso de plantas espinhosas como abrigo não se restringe às pererecas. Na Caatinga, por exemplo, é comum encontrar lagartos do gênero Tropidurus dormindo em cactos como o xique-xique ou o mandacaru. Até aves, como o carismático corrupião (Icterus jamacaii), conhecido pelo canto melodioso e pelas cores vibrantes, frequentemente escolhem cactos para dormir, abrigando-se entre os ganchos formados pelos ramos. Aves como o corrupião (Icterus jamacaii) frequentemente escolhem cactos para dormir Thomaz de Carvalho Callado/iNaturalist Mamíferos, aves e insetos também adotam estratégias semelhantes, buscando abrigo em locais inóspitos para evitar a ação de predadores. Muito além da ciência de laboratório Para o herpetólogo, o olhar atento ao comportamento animal no campo é essencial para compreender essas estratégias. Muitas vezes, pesquisadores se concentram na coleta dos espécimes e em análises laboratoriais, sem se aprofundar na chamada história natural – ou seja, o estudo das relações entre os animais e seu ambiente. “Como naturalista, gosto de observar cada detalhe. É fascinante ver um animal tão sensível como uma perereca repousando tranquilamente em meio a espinhos e tricomas. Isso nos mostra o quão surpreendente e sofisticada é a evolução”, finaliza. VÍDEOS: Destaques Terra da Gente Veja mais conteúdos sobre a natureza no Terra da Gente

FONTE: https://g1.globo.com/sp/campinas-regiao/terra-da-gente/noticia/2025/05/25/sono-afiado-pererecas-dormem-sobre-espinhos-para-se-proteger.ghtml


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