Registros fósseis de mais de 35 mil anos são encontrados no Lajedo de Soledade, RN

  • 18/12/2025
(Foto: Reprodução)
O Lajedo de Soledade (RN) está entre os sítios arqueológicos mais importantes do Brasil João Paulo da Costa O Lajedo de Soledade (RN) está entre os sítios arqueológicos mais importantes do Brasil. Além da variedade de pinturas rupestres, o local apresenta grande potencial para a descoberta de novos fósseis graças às suas ravinas – fendas formadas por processos de carstificação. Esse fenômeno ocorre quando a água da chuva, levemente acidificada, reage quimicamente com os minerais do calcário, dissolvendo-os ou transformando-os em novos minerais. Com o tempo, fraturas e fissuras naturais se ampliam e dão origem a cavidades, ravinas e outras formas típicas dessas áreas. As fendas do Lajedo têm alta capacidade de preservação e podem guardar uma grande diversidade de registros fósseis ainda pouco explorados. João Paulo da Costa, autor principal da pesquisa, comenta sobre a importância do sítio. “O Lajedo de Soledade se destaca por preservar, nos sedimentos no interior de suas ravinas, um registro fóssil excepcionalmente diverso, reunindo restos de mamíferos, aves, répteis e anfíbios. O nosso trabalho reforça a ideia de que esse conjunto de fósseis torna o Lajedo um dos depósitos mais importantes do Nordeste e do Brasil, pois concentra uma grande variedade de vertebrados do final do Pleistoceno (2,6 milhões a 11.700 anos atrás) em um único sítio”. Segundo ele, o potencial de preservação da região ainda está longe de ser esgotado. Para determinar a idade, a identidade e até a alimentação das espécies, os pesquisadores utilizaram duas técnicas principais. Representação do condor extinto com o Lajedo ao fundo Guilherme Gehr A primeira é a datação direta por radiocarbono, que estima a idade de materiais orgânicos a partir do decaimento natural do carbono presente neles. Todos os seres vivos acumulam carbono ao longo da vida; após a morte, esse elemento passa a diminuir gradualmente. Assim, medir o quanto de carbono restou nos restos orgânicos funciona como um “relógio natural”. O segundo método envolve análises isotópicas, utilizadas para identificar espécies ou grupos e revelar a dieta dos animais. O princípio é simples: “você é o que você come” – e também o que bebe. Elementos químicos presentes no ambiente possuem composições específicas, que são incorporadas pelos organismos em seus tecidos e ossos, especialmente no esmalte dentário, altamente durável. Esses sinais funcionam como “impressões digitais químicas”, revelando informações sobre o habitat e os hábitos dos animais. Todas as análises foram realizadas em parceria com o Laboratório de Radiocarbono da Universidade Federal Fluminense (LAC-UFF). Quais animais foram identificados? O estudo identificou uma expressiva diversidade de aves, com pelo menos nove tipos diferentes. Entre elas estão gaviões, pombas e rolinhas, periquitos, tinamídeos, perdizes, patos-do-mato, urubus e condores. O destaque é o Pleistovultur nevesi, um grande condor sul-americano considerado extinto. “Pleistovultur nevesi era um condor gigante que viveu no Nordeste do Brasil há cerca de 35 mil anos. Ele é da mesma família dos urubus atuais, mas muito maior. Este condor encontrado no Lajedo de Soledade tinha um peso estimado de 11,2 kg, o que mostra que era uma ave realmente grande. Para comparação, o urubu-rei pesa cerca de 5,5 kg, o condor-da-Califórnia 14,4 kg, e o condor-andino varia entre 15,2 e 18 kg. Isso significa que Pleistovultur nevesi era bem maior que o urubu-rei e se aproximava do tamanho dos grandes condores atuais, entre as maiores aves carniceiras do mundo”, explica o pesquisador João Paulo da Costa. Ossada condor sul-americano x urubu-rei João Paulo da Costa Seu porte expressivo é característico da megafauna – o conjunto de animais de grande porte que viveu em determinados períodos da história. A análise dos ossos indica que o condor habitava paisagens abertas, como campos e savanas, e provavelmente se alimentava das carcaças de grandes animais que viviam nesses ambientes no final do Pleistoceno. A descoberta também amplia o registro geográfico da espécie, cujas áreas de ocorrência ainda são pouco conhecidas. Guilherme Brito, coautor da pesquisa, complementa: “Aparentemente, Pleistovultur poderia ser uma espécie amplamente distribuída, pois sua descrição original veio de uma caverna em Lagoa Santa (MG), e agora encontramos material dele no RN. Estamos pensando em revisar o material dos grandes condores e urubus da América do Sul para buscar outras peças não identificadas e compreender melhor a espécie”. Essa é a primeira datação direta por radiocarbono e a primeira análise isotópica da dieta já realizadas para esse condor. As demais espécies identificadas ainda existem e vivem principalmente na Caatinga. Foi possível determinar, em nível de espécie, a presença de perdizes (Rhynchotus rufescens), patos-do-mato (Cairina moschata) e avoante (Zenaida auriculata). Em outros casos, apenas o gênero pôde ser identificado: uma grande pomba (Patagioenas), um inhambu (Crypturellus), um periquito (Aratinga) e um urubu (Cathartes). Também foi registrado um gavião, cuja identificação foi mais difícil. Registro aéreo com o local da escavação ao centro João Paulo da Costa O processo exige extremo cuidado e detalhamento. “Um dos maiores desafios da pesquisa foi a identificação dos fósseis, pois muitos materiais estavam incompletos, o que dificultava significativamente a classificação. Vários ossos eram tão fragmentados que só pudemos identificá-los em níveis taxonômicos mais amplos”, relata João Paulo da Costa. “Para superar essas limitações, realizamos comparações detalhadas com coleções de referência e conduzimos análises minuciosas de cada elemento”, completa. Todas essas espécies ainda vivem em ambientes secos e abertos da Caatinga, como campos graminosos, savanas e matas de galeria. Perspectivas futuras O Lajedo de Soledade tem um histórico rico de achados arqueológicos e continua contribuindo com descobertas inéditas para a ciência. Para os pesquisadores, as perspectivas de novos achados são bastante promissoras: as ravinas seguem revelando uma fauna diversificada, indicando que o sítio ainda reserva muitas surpresas. *Texto sob supervisão de Lizzy Martins VÍDEOS: Destaques Terra da Gente Veja mais conteúdos sobre a natureza no Terra da Gente

FONTE: https://g1.globo.com/sp/campinas-regiao/terra-da-gente/noticia/2025/12/18/registros-fosseis-de-mais-de-35-mil-anos-sao-encontrados-no-lajedo-de-soledade-rn.ghtml


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