Justiça arquiva inquérito contra motoboy baleado pela PM em banheiro durante a Operação Escudo
20/12/2025
(Foto: Reprodução) Exclusivo: câmeras corporais mostram PMs atirando em motoboy durante operação
A Justiça de Santos, no litoral de São Paulo, arquivou o inquérito policial contra o motoboy Evandro Alves da Silva, que foi baleado por policiais militares enquanto estava nu e usava o banheiro em meio à Operação Escudo (veja acima). Ele era acusado de resistência e porte ilegal de arma de fogo, mas o Ministério Público (MP-SP) considerou que não há elementos para fundamentar uma ação penal.
“Foram meses difíceis, marcados por medo, exposição e sofrimento, vividos por nossa família. Hoje, o sentimento que prevalece é o alívio, a gratidão pela vida e a possibilidade de seguir em frente com dignidade”, disse a família, por meio de nota.
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O caso ocorreu em 30 de agosto de 2023, quando os PMs invadiram o imóvel alugado por Evandro, no Morro José Menino, e atiraram enquanto ele estava nu e usava o banheiro.
Mesmo baleado, o homem pulou a janela e caiu de uma altura de 7 metros nos fundos da casa. Ele foi levado ao hospital, onde permaneceu por seis dias sob escolta policial.
Evandro pulou a janela e caiu de uma altura de sete metros.
Reprodução
À época, os PMs alegaram que o motoboy estava armado e apreenderam um revólver em cima de uma cama. Contudo, segundo o MP-SP, a versão foi desmentida com a análise das imagens das câmeras corporais (assista no topo da reportagem).
O Ministério Público, inclusive, apresentou denúncia por tentativa de homicídio contra os três policiais militares que atiraram.
🔎 O que foi a Operação Escudo? Realizada na Baixada Santista, a operação começou em julho de 2023, após a morte do PM Patrick Bastos Reis, e resultou na morte de 28 suspeitos em supostos confrontos. A ação foi alvo de denúncias por órgãos de direitos humanos a partir de relatos de moradores sobre execuções, tortura e abordagens policiais violentas.
Às 10h58, a câmera mostra apenas um casaco sobre a cama. Dois minutos depois, a pistola aparece no mesmo local.
Montagem g1/Reprodução
Arquivamento
Em documento assinado no dia 16 de dezembro, o promotor Fabio Perez Fernandez promoveu o arquivamento do inquérito, relembrando a denúncia contra os policiais por tentativa de homicídio.
“Segundo acusação já formalizada, os aludidos policiais forjaram a alegada legítima defesa e inseriram de maneira criminosa (“plantaram”) a arma de fogo que atribuem a Evandro. Assim, diante da análise conjunta dos procedimentos investigatórios acima mencionados, conclui-se que Evandro não estava armado, nem resistiu de qualquer forma, apenas fugiu da abordagem policial", pontuou.
No dia seguinte, a juíza da Vara do Júri/Execuções da Comarca de Santos, Andrea Aparecida Nogueira Amaral Roman, determinou o arquivamento definitivo com base na manifestação do MP.
Ao g1, a família de Evandro celebrou a decisão e afirmou que seguirá acompanhando o processo contra os policiais militares que efetuaram os disparos. “Encerra um capítulo doloroso e marca o início de um novo recomeço”, finalizou a nota enviada pelos parentes, que agradeceram ao Núcleo de Direitos Humanos da Defensoria Pública.
A ação policial de 2023 deixou sequelas em Evandro. Ele teve oito costelas fraturadas, perdeu o baço e um pedaço do pulmão — onde há uma bala alojada.
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