'A gente fez tudo que foi possível': mãe relata luta para tentar proteger filha morta pelo ex em Serra Negra

  • 13/09/2025
(Foto: Reprodução)
'A gente fez tudo que foi possível': mãe narra luta para proteger filha morta por ex Mãe de uma vítima de feminicídio em Serra Negra (SP), Roseli de Araújo relata que ajudou a filha a denunciar o ex-marido quando soube das agressões sofridas por ela nos 14 anos de relacionamento: "Eu não me importei com as ameaças dele, a gente fez tudo que foi possível". Beatriz Aparecida de Araújo Cruz, de 31 anos, morava no bairro Três Barras, na zona rural do município, e desapareceu no dia 19 de abril, na véspera de Páscoa. O corpo da jovem foi encontrado no mesmo bairro quatro meses depois, em 11 de agosto, após o ex-companheiro Thiago Fernando Monteiro confessar o crime e indicar o local onde a enterrou. Em entrevista ao g1, Roseli narrou como realizou denúncias na polícia, apoiou a filha e passou a acompanhá-la diariamente, na tentativa de protegê-la. Veja no vídeo acima. ✅ Clique aqui para seguir o canal do g1 Campinas no WhatsApp O g1 não conseguiu localizar a defesa do homem até a publicação desta reportagem. Corpo de Beatriz Aparecida de Araújo Cruz, de 31 anos, foi encontrado em agosto, depois que o ex-marido confessou o crime e indicou onde a vítima foi enterrada. Arquivo pessoal Agressões Roseli conta que descobriu as agressões em janeiro deste ano, depois de presenciar uma delas na casa de Beatriz. Ela discutiu com Thiago, mas Beatriz permaneceu na casa naquele dia. Ela só aceitou sair depois que a família já havia feito denúncia na polícia, e estava emocionalmente desequilibrada, segundo a mãe. "Não tinha como eu pegar ela e levar à força para casa. Ela quis ficar, mas eu não dormi. Eu acho que saí da minha casa umas três vezes, fiquei rondando em volta da casa para ver se eu não escutava nada, se eu não ouvia gritos", lembra Roseli. Em Serra Negra, o casal morava em um terreno no bairro Três Barras, na zona rural. Depois da agressão, Beatriz passou a viver na casa da mãe, em um terreno nos fundos de onde morava anteriormente. Na época, Thiago teria dito que aceitava a separação e que se mudaria para Mogi Mirim, mas passou a perseguir a jovem. Roseli conta que chegou a fazer duas denúncias pelo 180, ajudou Beatriz a registrar um boletim de ocorrência, e a família procurou uma advogada. A pedido da advogada, Beatriz redigiu relatos dos abusos sofridos em silêncio em 14 anos de relacionamento e os revelou à mãe. "A partir dali eu virei uma neurótica. A gente começou a usar carro por aplicativo, eu não deixava ela sozinha. No ponto do ônibus eu ia levar, ela ia comigo trabalhar, na volta eu ficava no ponto com ela até ela entrar no ônibus para levar o menino no inglês", descreve Roseli. Cerca de 15 dias antes do desaparecimento, Beatriz conseguiu uma medida protetiva contra o ex-marido. A jovem desapareceu no dia 19 de abril, quando estava a caminho do hotel onde trabalhava. Thiago Fernando Monteiro, ex-marido de Beatriz, confessou o crime de feminicídio e indicou o local onde a enterrou. Arquivo pessoal Suposta mensagem após desaparecimento Era véspera de Páscoa e Roseli achava que a filha estava trabalhando. Ela fazia compras para celebrar a data com a filha e o neto, mas estranhou quando mandou uma mensagem para Beatriz que não foi entregue. Por volta do meio-dia, Roseli conta que recebeu uma mensagem enviada pelo celular da filha, mas que parecia não ter sido escrita por ela. No texto, a jovem suportamente avisava que não foi trabalhar porque estava "com a cabeça destruída", pedia que a mãe cuidasse do filho e dizia para ela ficar calma, pois voltaria logo. Roseli conta que desconfiou da mensagem porque ela não continha pontuação — diferente da forma como a filha costuma escrever — e ainda se referia ao menino por um nome que ela não estava habituada a usar. "Eu li a mensagem e já mandei um áudio em seguida. No áudio eu falei: 'Beatriz, essa mensagem não é coisa sua. Se você estiver com o Thiago, fala para ele que eu vou pôr a polícia atrás dele. Ela não visualizou essa mensagem também", relata a mãe. Roseli registrou o boletim de ocorrência do desaparecimento da filha no dia seguinte pela manhã, na delegacia de Serra Negra, mas apagou a mensagem do celular e não a mostrou aos policiais civis, com medo de que os dizeres fizessem com que o caso não fosse investigado. "Não devia ter feito isso, mas fiz. Eu tive que ir lá pedir desculpas para o delegado, e falar para ele que essa mensagem realmente existiu. Eu não contei porque eu realmente achei que ia demorar muito para começarem a investigar", admite. A mãe, Roseli de Araújo, com a filha, Beatriz Aparecida de Araújo Cruz, que foi vítima de feminicídio em Serra Negra (SP). Arquivo pessoal Investigações No dia 21 de abril, na segunda-feira após o desaparecimento, Roseli foi à delegacia novamente. Lá, ela recebeu uma ligação de Thiago e ele se ofereceu pra ajudar a procurar por Beatriz. Ele disse que tinha acabado de saber que ela havia sumido e perguntava se não tinha deixado nenhum aviso. "Ele falava: 'mas é que a gente brigou, aconteceu tanta coisa, seria comum se ela tivesse saído para esfriar a cabeça'", afirma Roseli. No início das investigações, a mãe chegou a pedir ajuda para procurar pelo corpo. "O pai dela ficou sabendo e me perguntou o que podia fazer para ajudar. Eu falei para ele: 'você conhece tanto a terra, se você quer ajudar, aqui nesse terreno deles tem mais de 1,5 mil metros, vê se você acha alguma terra mexida. Porque eu tenho quase certeza que ele matou ela e enterrou ela aqui em algum lugar", lembra Roseli. O pai de Beatriz foi ao terreno e procurou por algum sinal da filha, sem sucesso. O corpo foi encontrado pela polícia na mesma região, depois de quatro meses. "Realmente estava aqui, e eu estava passando ali na frente todo dia, muitas vezes para ir correndo na delegacia para saber como é que estava a investigação", desabafa a mãe. A investigação apontou, por meio de imagens de câmeras de segurança, que o carro de Thiago esteve próximo ao local em que Beatriz desapareceu, no mesmo horário em que ela foi vista pela última vez. Thiago foi preso em São José dos Campos em 16 de junho, e responde por feminicídio, sequestro, cárcere privado, descumprimento de medida protetiva e ocultação de cadáver. O corpo de Beatriz foi encontrado depois que Thiago confessou o crime e indicou o local onde a vítima foi enterrada. Segundo Roseli, no depoimento, ele disse à polícia que discutiu com Beatriz enquanto a levava ao trabalho, que ela carregava uma faca e teria se ferido no pescoço durante a discussão. Beatriz Aparecida de Araújo Cruz desapareceu no dia 19 de abril, em Serra Negra (SP). Reprodução/EPTV Medida protetiva De acordo com Roseli, a filha sofreu violência física, psicológica, sexual e patrimonial durante os 14 anos de relacionamento. "Eu espero justiça. É também para todas as mulheres que passam por isso caladas", afirma. Para ela, faltam punições mais severas e medidas para proteger as mulheres vítimas de violência. "Nós temos uma medida protetiva, um pedaço de papel... como é que você impede que um homem te mate?", questiona. O advogado criminalista Salvador Scarpelli Neto, presidente da Comissão de Direito Processual da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) em Campinas, explica que as medidas protetivas são um marco "associado à luta do movimento feminista pela normatização de proteção à mulher contra a violência". "As medidas protetivas visam assegurar segurança e proteção à vítima, seja uma proteção física como uma proteção psíquica, buscando preservar o bem-estar, o patrimônio, a autonomia dessa pessoa. Busca evitar que aquela situação inicial de lesão seja escalonada", afirma. Scarpelli Neto pondera que a medida precisa proteger a vítima ao mesmo tempo em que assegura a presunção de inocência e a liberdade do suspeito. "Em casos mais graves, é claro que não precisa se impor a medida protetiva, mas sim já se decreta, desde logo, a prisão preventiva desse sujeito", acrescenta. Para ele, casos como o de Beatriz revelam a "insuficiência dos institutos jurídicos, incapazes de conformar a realidade". "Tudo que poderia ser feito, do ponto de vista institucional, foi feito. Mas mesmo assim não deu conta de conter a agressividade daquele agente. E, em razão disso, as instituições irão se realizar, porque esse sujeito será processado criminalmente e muito provavelmente ao final, a partir das provas que forem produzidas, ele vai ser condenado", avalia. O advogado também pontua que o processo penal dá respostas depois dos acontecimentos, mas para se evitar que crimes sejam cometidos é preciso pensar em medidas anteriores. "A gente precisa mudar a sociedade, a gente precisa mudar a forma da sociabilidade. E por que? Porque a sociabilidade brasileira está pautada a partir de concepções machistas, concepções patriarcais", conclui. Sobre a reclamação de Roseli, o Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP) disse somente que o caso tramita sob segredo de justiça e que não se manifesta sobre questões jurisdicionais. O g1 também entrou em contato com a Secretaria de Segurança Pública (SSP) de São Paulo, mas não obteve retorno até esta publicação. G1 Explica: ciclo do relacionamento abusivo VÍDEOS: saiba tudo sobre Campinas e Região Veja mais notícias da região no g1 Campinas

FONTE: https://g1.globo.com/sp/campinas-regiao/noticia/2025/09/13/a-gente-fez-tudo-que-foi-possivel-mae-relata-luta-para-tentar-proteger-filha-morta-pelo-ex-em-serra-negra.ghtml


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