5 anos da pandemia de Covid: empreendedores do interior de SP relembram desafios para abrir e manter negócios durante o lockdown
14/03/2025
(Foto: Reprodução) Declaração da pandemia de Covid-19 completou cinco anos nesta semana. Durante o período de isolamento, muitos comerciantes precisaram se reinventar para continuar atendendo o público. Em uma série de reportagens, o g1 relembra os impactos da pandemia. Empreendedores transformaram desafio de viver na pandemia em oportunidade para abrir ou continuar com o próprio negócio
Reprodução/Redes sociais
No dia 11 de março de 2020, a Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou pandemia global devido à Covid-19. Esse momento histórico marcou as vidas de milhares de pessoas, principalmente dos familiares das mais de 700 mil vítimas da doença, ao longo desses cinco anos.
📲 Participe do canal do g1 Itapetininga e Região no WhatsApp
Naquela época, em meio a um período de grande tensão e incerteza, muitos empreendedores do interior de São Paulo precisaram encontrar maneiras de transformar os desafios impostos pela pandemia em oportunidades. Entre 2020 e 2021, quando as restrições ao contato humano eram mais rígidas, muitos se reinventaram para abrir ou manter seus próprios negócios.
Segundo dados do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), entre 2020 e 2021 houve um aumento de mais de 17% no número de Microempreendedores Individuais (MEIs) no estado de São Paulo. Esse crescimento seguiu nos anos posteriores, ainda que com certa desaceleração. Confira abaixo:
Eduardo Mantovani, analista de negócios do Sebrae, descreve o aumento significativo de empreendedores durante a pandemia:
"Muitas empresas, especialmente aquelas que atendem o público de forma física, como o comércio, enfrentaram uma queda drástica no faturamento. Em alguns casos, até 70%. Isso fez com que muitos empreendedores precisassem se reinventar e a formalização como MEI foi uma alternativa importante", ressalta.
LEIA TAMBÉM:
Carros dentro de shopping, música no portão e hospitais improvisados foram medidas adotadas
Uso de máscara, álcool em gel e cardápios lavável e digital são ações herdadas por comerciantes
Luto e saudade fazem parte do convívio diário de famílias que perderam parentes no interior de SP
Especialistas falam sobre impactos do negacionismo em um dos 'maiores desafios da ciência e da saúde pública'
Estudo inédito de vacinação em massa em Botucatu acompanhou efeitos da imunização no 'mundo real'
'Medo da morte', jogo com goleiro na linha, Paulistão no RJ e hospital em arena foram marcas deixadas no esporte no interior de SP
Mesmo endereço, novo empreendimento
Este foi o caso de Carlos Eduardo Gomes, de Itapetininga (SP), que precisou de criatividade para continuar com o comércio da família. O bar Fecha Nunca já existia havia 75 anos, mas quase faliu durante a pandemia.
"A pizza salvou a empresa da família, pois, com a pandemia, fomos obrigados a fechar. Na época, somente seria possível continuar trabalhando se tivéssemos algum produto para entregar nas casas das pessoas e foi aí que pensei na pizza", relembra.
Antes e depois de pizzaria que era um bar antes da pandemia
Carlos Eduardo/Arquivo pessoal
O que era uma alternativa mais viável no momento se tornou um grande sonho realizado: "Comecei a tentar reproduzir algumas receitas que encontrei na internet e, em seguida, conheci um pizzaiolo italiano que me ajudou muito a melhorar a minha técnica".
No começo, não foi nada fácil, segundo o empresário, porque a cidade já contava com boas pizzarias, e as pizzas produzidas por eles eram diferentes das convencionais.
Para lidar com a nova rotina, todos precisaram reaprender novas funções: "Eu virei pizzaiolo, teve garçom que virou entregador de pizza, tivemos que aprender a fazer atendimento virtual por aplicativos de celular e a estrutura da cozinha teve que ser modificada drasticamente para conseguirmos produzir as pizzas".
Carlos Eduardo Gomes apostou na pizza para conseguir manter o estabelecimento da família funcionando
Reprodução/Redes sociais
O pizzaiolo se deu tão bem na profissão que já participou de quatro campeonatos de pizza, ficando entre os 10 melhores em um mundial de pizza, em 2023, e em 1º lugar no campeonato brasileiro de 2024. "Fiquei muito feliz, pois ganhei um forno de pizza maravilhoso, o maior e mais valioso prêmio já pago em um campeonato", conta.
A Fecha Nunca Pizza, que completou 80 anos de história, continua com os atendimentos, presenciais e por delivery. "A empresa foi inaugurada pela minha avó, no ano de 1945, e por muito tempo serviu café da manhã, almoço e jantar para os viajantes que passavam pela cidade. Também funcionava como dormitório, e até mesmo como rodoviária, de onde saíram ônibus para toda a região."
Continuar fazendo o que gosta
Já a gastrônoma de Sorocaba (SP) Tatiana Môya fazia doces personalizados para festas de aniversário havia 10 anos quando sentiu o impacto da pandemia. "Me vi com as crianças em casa o dia todo estudando remoto e as festas simplesmente deixaram de existir. Fiquei sem chão… Tentei criar kits para festa em casa e, mesmo assim, não estava indo tão bem."
Tatiana sentiu o desafio de recomeçar um negócio durante a pandemia
Tatiana Môya/Arquivo pessoal
Foi então que ela começou a pesquisar alternativas para conseguir renda e encontrou uma empresa de cestas de café da manhã, que era de outra dona até 2021. "A proprietária não queria passar a empresa para alguém que não entendesse nada na área. Foi aí que meu marido me incentivou e me deu a empresa", conta.
Atuando novamente como empreendedora, Tatiana sentiu o desafio de recomeçar um negócio durante a pandemia. "Eu não sabia, a princípio, como aguçar minha criatividade para criar cestas do zero, pois ver algo pronto é uma coisa, agora você pensar o que combina com o quê, o que fica legal, ver os melhores produtos e fornecedores..."
Empreendedora cria cestas artesanais para clientes que querem presentear alguém de uma maneira especial
Tatiana Môya/Arquivo pessoal
A empresa se tornou também uma forte ligação com o marido: "Foi ele quem mais me incentivou a estudar e correr atrás dos meus sonhos, me fez criar coragem de ficar com a Tahanina, pois ele sabia do meu amor, e eu só tenho a agradecer a ele todos os dias, pois, em abril de 2023, ele morreu, me deixando com as três crianças".
Atualmente, as demandas da empresa são feitas todas por Tatiana, em casa mesmo. Ela conta com apoio da família na montagem e entrega. "Os pedidos são feitos pelo link do nosso cardápio. A pessoa me passa quem irá receber a cesta e a mensagem que irá no cartão. Escrevemos um a um manualmente."
Empreendedorismo possibilita que Tatiana Môya fique mais próxima dos três filhos
Tatiana Môya/Arquivo pessoal
Novas oportunidades
Já em Marília (SP), Vinícius de Souza abriu uma hamburgueria em 2020. "Era só sonho. Comecei, me dediquei, me esforcei. Deixei muita coisa de lado e, aos poucos, fui aprendendo com meus erros. Ter que fazer o pedido e entregar de madrugada por não ter entregador, e você não pode perder a venda... Foi um começo difícil", relembra.
Ao g1, Vinícius afirmou que o período de isolamento ajudou a hamburgueria a prosperar: "A pandemia favoreceu muito o crescimento da lanchonete, pois os pedidos de entrega "bombaram'", lembra.
Vinícius de Souza abriu uma hamburgueria em 2020, durante a pandemia
Reprodução/Redes sociais
Conforme o representante do Sebrae, o aumento das compras online impulsionou a demanda por entregas rápidas e serviços de delivery, já que os consumidores passaram a priorizar conveniência e agilidade.
"O setor de alimentação também passou por uma grande transformação. Restaurantes e lanchonetes, que antes dependiam majoritariamente do atendimento presencial, tiveram que migrar rapidamente para o ambiente digital", completa Eduardo Mantovani.
O empreendedor, por sua vez, viu nessa situação uma oportunidade de conquistar um emprego fixo, com a possibilidade de gerenciar suas demandas de maneira mais flexível. "Nunca me dei bem como funcionário, não me dava bem com patrão nenhum", afirma.
Empreendedor viu uma forma de ter um emprego fixo a partir da lanchonete
Reprodução/Redes sociais
Eduardo Flud, analista de negócios do Sebrae, destaca o crescente interesse dos jovens pelo empreendedorismo: "Houve uma mudança de mentalidade, especialmente entre os mais jovens, que passaram a enxergar o empreendedorismo como um caminho para maior autonomia profissional e realização pessoal".
A lanchonete de Vinícius foi tão bem-sucedida que, em 2025, completará cinco anos e já foi vencedora, por dois anos consecutivos, em 2023 e 2024, de uma votação pública que elegeu o melhor hambúrguer da região.
Atualmente, o perfil da lanchonete nas redes sociais acumula mais de 16 mil seguidores. Nele, o empreendedor compartilha seus produtos e divulga ofertas, que frequentemente viralizam entre os consumidores.
De sabores a aromas
No caso da publicitária Lorena Previtali Carvalho, de Araçatuba (SP), ao invés de atiçar o paladar, ela decidiu investir em produtos artesanais aromáticos e personalizados em 2020.
Na época, Lorena trabalhava como social media e atendia cerca de 40 clientes, que cancelaram os serviços devido à pandemia. Diante dessa mudança, ela viu uma oportunidade e investiu no ramo de aromatizantes, criando uma nova forma de negócio.
"Com a necessidade de uma renda a mais, eu queria algo artesanal que pudesse fazer em casa, que demandasse poucos materiais e que fosse fácil de entregar. Queria também algo que trouxesse conforto, que despertasse sentimentos bons nas pessoas, considerando o que estávamos vivenciando na pandemia", relembra.
Empreendedora decidiu investir em produtos artesanais aromáticos e personalizados em 2020
Reprodução/Redes sociais
Lorena conseguiu uma nova carreira a partir do aperfeiçoamento e especialização, com cursos feitos na internet: "Até chegar no resultado que eu queria para as velas e sprays perfumados, isso levou aproximadamente seis meses até eu iniciar de fato as vendas".
Para vender seus produtos, ela criou embalagens com um toque de sofisticação e planejou campanhas atrativas nas redes sociais, já que os consumidores estavam em casa e os produtos chegavam até eles por meio da internet.
No processo de produção das velas, Lorena fez cursos online e realizou diversos testes com os produtos. Levou cerca de seis meses até que conseguisse começar a vender. Na época, as velas perfumadas ainda eram pouco conhecidas pelo público, realidade que mudou no pós-pandemia.
"As velas perfumadas ficaram mais comuns. Então, incluí outros produtos, como as imagens de gesso. Eu encomendo as imagens cruas pela internet e personalizo eu mesma", conta.
Lorena Previtali Carvalho investiu no ramo de aromatizantes e personalizados durante a pandemia
Lorena Previtali Carvalho/Arquivo pessoal
Atualmente, Lorena possui um emprego fixo, como gerente e social media, mas continua com a Esalare e tem planos para que o empreendimento prospere cada vez mais: "Meus planos são ampliar meu estoque de produtos à pronta-entrega e ter uma loja online mais estruturada, com um site próprio, por exemplo, e poder vender no Brasil todo."
A flexibilização das medidas restritivas contra a Covid-19 no Brasil ocorreu de forma gradual e variada, conforme a evolução da pandemia e as especificidades de cada região.
Para vender os produtos, ela criou embalagens com um toque de reverência
Reprodução/Redes sociais
*Colaborou sob supervisão de Carla Monteiro
Veja mais notícias no g1 Itapetininga e Região
VÍDEOS: assista às reportagens da TV TEM