Rota da Luz vira símbolo de devoção e favorece conexão espiritual de peregrinos no caminho até Aparecida
12/10/2025
(Foto: Reprodução) Romeiros contam com ajuda de especialistas para planejar romaria a Aparecida
Outubro é o mês dedicado às celebrações de Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil. Neste período, católicos de todo o país se preparam para a celebração neste domingo (12), se mobilizando para uma jornada de fé rumo ao Santuário Nacional de Aparecida, no Vale do Paraíba.
Um trajeto que vem atraindo peregrinos é a Rota da Luz, um caminho alternativo à Rodovia Presidente Dutra (BR-116). Com 201 quilômetros de extensão que tem início em Mogi das Cruzes, ela foi inaugurada em abril de 2016, por Maria Lúcia Guimarães Ribeiro Alckmin, a Lu Alckmin, que na época era primeira-dama de São Paulo.
Na ocasião, ela classificou a Rota Luz como uma homenagem ao filho, Thomaz Rodrigues Alckmin, morto em um acidente de helicóptero em 2015. "Ele dizia que queria percorrer o caminho comigo de cavalo ou de bicicleta. Mas ele está indo de um jeito mais especial, estou levando o Thomaz no meu coração.”
Com belas paisagens e longe do movimento intenso da rodovia, o caminho permite uma melhor conexão espiritual ao peregrino. Além disso, a opção é mais segura, uma vez que na Via Dutra os devotos dividem o espaço com carros, ônibus e caminhões.
Peregrinos se deslocam até Aparecida pela Rota da Luz
Divulgação/Associação dos Amigos da Rota da Luz
"A Rota da Luz começa a ter infraestrutura própria e, diferente da Dutra, oferece contato com a natureza, permitindo momentos de tranquilidade para oração. Na Dutra, os sons da rodovia tiram esse aspecto de tranquilidade. Infelizmente, temos notícias de tragédias envolvendo fiéis, e a Rota da Luz foi implantada com essa preocupação: oferecer um momento mais introspectivo (um olhar para si mesmo)", afirma Ubirajara Nunes, presidente da Associação Amigos da Rota da Luz (AARL).
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Trajeto começa em Mogi das Cruzes
Divulgação/Associação dos Amigos da Rota da Luz
Trajeto
Ao seguir pela Rota da Luz o romeiro passa por nove cidades. A caminhada começa na Estação Estudantes, em Mogi das Cruzes, seguindo por Guararema, Santa Branca, Paraibuna, Redenção da Serra, Taubaté, Pindamonhangaba, Roseira e Aparecida (veja o mapa abaixo).
Quem escolhe fazer o trajeto a pé pode levar até seis dias para chegar ao destino. Em média, o peregrino percorre de 30 a 35 quilômetros por dia. Muitos optam por fazer o caminho de bicicleta, os chamados "bicigrinos", que conseguem concluir o percurso em dois dias.
Para Nunes, a Rota da Luz tem um grande significado pessoal.
"Simboliza a conexão com minha espiritualidade e a gratidão que tenho a Nossa Senhora Aparecida pela graça alcançada, a saúde de meu filho Davi. Resiliência, fé e gratidão", resume.
Mapa da Rota da Luz
TV Globo/Reprodução
Acolhimento
Outro diferencial é o acolhimento oferecido aos peregrinos. Em média, são cinco a seis pousadas os recebem ao longo do caminho. O deslocamento é planejado de maneira prévia, conforme explica o representante da associação. Moradores também auxiliam os romeiros, oferecendo água e comida.
"O tratamento não é de hóspede, mas de um peregrino. É um momento para repouso. Os próprios empreendedores recebem o agendamento de grupos. Eles acabam se tornado responsáveis por esse deslocamento. Temos grupos específicos dos peregrinos cadastrados pela associação. Todos têm uma ideia do tempo que você vai levar para chegar até a pousada. Se caso ultrapassar o tempo estimado, eles fazem contato. Existe um cuidado por parte das hospedagens, são como uns 'anjos do caminho'".
Peregrinos caminham pela Rota da Luz até Aparecida
Divulgação/Associação dos Amigos da Rota da Luz
Melhorias
A associação aposta no diálogo com as prefeituras das cidades da Rota da Luz e com o Governo de São Paulo para trazer melhorias. Uma das sugestões é a implantação de pontos de apoio cobertos com acesso a água, úteis em dias chuvosos ou quentes.
"Quando falo de ponto de apoio não é sobre hotéis. É um local coberto, com água, para que os fieis possam se abrigar. Participei de reuniões anteriormente onde havia um plano para criação desse locais. Acreditamos que essas estruturas podem ser instaladas", destaca Nunes.
Mesmo com um fluxo menor se comparado à Via Dutra, a entidade promove campanhas com banners visando conscientizar motoristas sobre a importância de trafegar em velocidade reduzida. Além disso, placas de sinalização instaladas nos postes ao longo do trajeto orientam os devotos.
Há também uma preocupação com o meio ambiente, onde os romeiros são orientados a fazer o descarte adequado de resíduos.
Romeiros chegam até o Santuário Nacional de Aparecida
Divulgação/Associação dos Amigos da Rota da Luz
Associação Amigos da Rota da Luz
A entidade foi criada após união entre peregrinos e empreendedores da Rota Luz em 2019, quando o percurso foi descontinuado pelo governo estadual. Em razão disso, surgiu a Associação Amigos da Rota Luz. Desde então, entidade atua como interlocutora entre fiéis e autoridade.
Em 2026, a Rota da Luz completa dez anos. Por conta disso, a associação recebeu a imagem peregrina de Nossa Senhora Aparecida. A entidade realiza uma peregrinação mensal, percorrendo os municípios do trajeto. Em cada cidade, é celebrada uma missa, sempre às 19h.
Presidir a entidade é muito mais que uma atividade administrativa para Nunes, mas sim um compromisso de fé.
"O intuito é zelar pelo peregrino. É uma ação voluntária, um compromisso de fé e de cuidar de quem deixa o conforto de seu lar e se propõe a fazer esse caminho. Ele precisa desse acolhimento", finalizou.
Nossa Senhora Aparecida no rio Paraíba do Sul
Em outubro de 1717, João Alves, Felipe Pedroso e Domingos Garcia pescavam no rio Paraíba do Sul. O trio ficou encarregado de conseguir peixes para um banquete na Vila de Santo Antônio de Guaratinguetá, que recebia a visita de Dom Pedro de Almeida Portugal.
Enquanto navegavam, os pescadores encontraram a imagem de Nossa Senhora no rio. Ela estava quebrada, com o corpo separado da cabeça.
Até hoje não há uma explicação sobre como a imagem foi parar lá. Na época, havia a crença de que guardar esculturas quebradas causava maldição. Partindo desta premissa, a principal hipótese é de que ela foi descartada por um fiel, que com medo de ser "amaldiçoado", optou por descartá-la.
Outra teoria é de que a imagem foi arrastada até o Paraíba do Sul durante uma enchente. Ela ficava exposta em uma capela situada onde hoje fica o município de Roseira. Também não se sabe quanto tempo ela ficou submersa.
É certo que, em sua origem, a imagem era de Nossa Senhora da Conceição, padroeira de Portugal. Como foi ‘aparecida’ (no sentido de encontrada), no entanto, tem até hoje como nome oficial Nossa Senhora da Conceição Aparecida.
Ela está exposta no interior da Basílica, a cerca de 4 metros do chão, em um nicho com detalhes em pastilhas de porcelana, pintadas com ouro, e símbolos que remetem à ‘pesca milagrosa’.
O nicho é protegido por um vidro blindado, cujo peso total é de meia tonelada. A estrutura inteira - chamada de retábulo - tem quase 37 metros de altura.
Trecho do rio Paraíba do Sul, em Aparecida, onde a imagem foi encontrada, em 1717, com a Basílica ao fundo
Divulgação/Arquidiocese de Aparecida
De acordo com um levantamento do Centro de Inteligência da Economia do Turismo (CIET), ligado à Secretaria de Turismo e Viagens do Estado de São Paulo (Setur-SP), são esperados 450 mil visitantes durante a Festa da Padroeira.
O maior movimento ocorre aos fins de semana, quando chegam à cidade cerca de 150 mil pessoas, de acordo com dados da Prefeitura da Capital Nacional da Fé.
Padroeira do Brasil
O decreto que constituiu Nossa Senhora Aparecida como Padroeira do Brasil foi assinado em 16 de julho de 1930, pelo papa Pio XI, de acordo com informações da Diocese de Mogi das Cruzes.
A proclamação aconteceu em 31 de maio de 1931, no Rio de Janeiro, na época capital federal. A cerimônia foi acompanhada por milhares de fiéis.
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